Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. (1Pd 5:1-8)
Antes de tomar o texto de Pedro para aprender com ele como deve ser o pastoreio, penso que algumas considerações deveriam ser feitas para os que estão entrando no ministério pastoral.
- Não pretenda saber tudo – tenha a liberdade de dizer “não sei”. Quem busca responder a todas as indagações dos discípulos corre dois riscos: primeiro, pode se enganar em alguma coisa pois não sabemos tudo. O outro risco é criar uma dependência em sua pessoa, privando a pessoa de aprender a orar para receber de Deus as respostas. Lembremos que não temos um ministério eterno e, com a nossa partida as pessoas devem ter aprendido a depender do Espírito Santo. A Palavra diz que não temos necessidade de que alguém nos ensine:
1 João 2:27 Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.
2. Não queira fazer tudo, como se outros não fossem capazes. Assim como nós aprendemos com o tempo, devemos dar espaço e tempo para que outros aprendam. Fazer errado faz parte do aprendizado. Quando tentamos acertar existe a possibilidade de errar. Da próxima vez faremos melhor até que acertemos. Incentive as pessoas a trabalhar, elas precisam de incentivo. Se errarem, lembre-se que você também errou, e erra ainda.
3. Procure descobrir, desde cedo qual é o seu ministério específico e dedique-se a ele. Somente faça outras coisas quando perceber que as responsabilidades especificas de seu ministério foram satisfeitas.
4. Busque conhecer aquilo que o Senhor deseja e aplique-se a isso, lembrando que o Senhor, muitas vezes, não se entusiasma com o que nos entusiasma.
5. Afaste de si o espírito de pioneirismo como se você fosse o primeiro a pregar aquele tema, o primeiro a ter aquela revelação, ou que o seu ministério vai impactar todo o mundo. Você não está sozinho e a obra de Deus é feita com a participação de todos os ministérios que o Senhor levantou.
6. Não trabalhe por números. Lembre-se que Jesus cuidou de pessoas e não de multidões. Ele ouvia e atendia as pessoas que o buscavam e as valorizava. Dê atenção aos que lhe buscam, ainda que você não tenha condições de responder às necessidades que são apresentadas a você.
7. Valorize cada pessoa, e uma forma bem importante de valorizar é dar atenção, sem impaciência, e também não responda antes do tempo. Talvez, na medida que a pessoa vai expondo a situação, ela mesma encontra a saída do problema. Não apresse a pessoa, mesmo que ela seja prolixa. Se não tiver tempo realmente naquele momento, marque um tempo para ouvi-la.
8. Na medida que puder, faça todo esforço para nunca se atrasar nos compromissos. Lembre-se que o tempo das pessoas são tão importantes quanto o seu, ou mais. O atraso nos compromissos revela, muitas vezes, um complexo de superioridade. Se você marcar um compromisso com alguém sabidamente superior, você fará de tudo para chegar antes. Isso mostra honra à pessoa e se for atrasar, ainda que por um pouco, avise e se desculpe.
9. Lembre-se que a comunicação bem feita gera um entendimento claro. A responsabilidade do entendimento é de quem comunica e não de quem recebe a comunicação. Ao dar comandos ou ordens, seja o mais simples, o mais humilde e o mais claro possível.Não deixe a pessoa pensar que você se sente o “big boss”. Comande com um coração de servo.
10. Ao discipular recorde-se que você é servo do discípulo, e não ao contrário. Esse é um dos ensinamentos basilares de Jesus. Ele lavou os pés dos discípulos e aquilo não foi um ritual religioso. Foi uma lição para nós, mostrando como Jesus via seus discípulos.
11. Não pense de si mesmo mais do que convém, mas segundo a medida de fé que Deus repartiu com você. Aprenda a honrar o ministério de outros, ainda que pareça que ele está sendo superior, e o ministério dele está tendo mais sucesso que o seu. Talvez seja verdade, mas cada um tem a sua graça e assim, com essa graça, você deve operar. Lembre-se que o Senhor dá graça ao humilde. Se ninguém matou um novilho cevado para você, alegre-se na festa do outro. Isso é do agrado do Pai. Se você for pé, não queira ser olho.
12. Não reclame a respeito do ministério e suas dificuldades. Tenha sempre em mente que você foi chamado para a obra mais sublime que alguém pode fazer nesta terra que é cuidar da noiva do Cordeiro. Não há nada mais maravilhoso que isso. Ela é a menina dos olhos de Deus e Ele está confiando Suas ovelhas, sua Noiva a você.
13. Não se apodere da noiva que não é sua. Ela é do Cordeiro e Ele arde em ciúmes pelos Seus. Tg 4:5. Toda a atenção da Noiva é para seu Noivo. O papel que exercemos é executado nos bastidores. Os servos ficam próximos dos mais importantes sem querer aparecer. Seu serviço é manter o ambiente tranquilo, dando todas as possibilidades para que os Noivos estejam juntos.
14. Não podemos ser constrangidos pelas expectativas de resultados estabelecidos por nós ou por outros. Não podemos ser movidos por critérios de produtividade: quanto mais produzimos, mais importantes seremos no mundo evangélico; uma agenda bem cheia para o mundo significa que você é importante, ao contrário disso, estar ocupado com poucas coisas necessárias e com aquela que basta, agrada ao coração do Senhor.
15. O serviço pastoral deve ser espontâneo, de coração; Deve ser feito de boa vontade, com generosidade e afeto; o chamado de Deus para que o sirvamos no pastoreio deve sempre ser visto como um privilégio. O nosso serviço é a manifestação do amor de Deus por meio de vasos de barro como nós.
16. Os que estão à frente do povo devem se colocar como modelos dos fiéis. Ao nos colocar à frente do rebanho o Senhor não quis dizer que somos os mais importantes. Ele usa a nossa experiência de vida, colocando o sininho em nosso pescoço para que sinalizemos às ovelhas onde está a comida, a água, o redil e, principalmente, onde está o Supremo Pastor. Mantenha o Senhor no seu foco e ele nunca vai deixar você desviar, nem os que lhe seguem. Você vai ser salvo e vai salvar seus ouvintes.
17. Dependa totalmente do Espírito Santo e da Palavra. Lembremos que sem Ele nada podemos fazer. Jesus disse: “Eu edificarei a minha Igreja”. Leve o povo ao batismo com o ES e ajude-o a ser cheio do Senhor.
O texto de Pedro nos diz que NÃO devemos pastorear constrangidos, que o pastoreio não pode ser uma obrigação e nem ser motivado por medo da prestação de contas. Isso não traz proveito a quem pastoreia, nem a quem é pastoreado.
Alguns são constrangidos pelo fato de receberem salário da congregação e, por esse motivo, precisam se mostrar dignos desse salário. Procuram estar ocupados para que não haja cobrança por parte das pessoas.
Precisamos compreender que, conquanto tenhamos de ter um bom testemunho diante do povo, a nossa prestação de contas é Àquele que vê a nossa motivação. Paulo diz isso:
Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. (1Co 3:1-4)
1. Não podemos pastorear por sórdida ganância.
O ministério não é fonte de lucro ou uma oportunidade para “subirmos na vida”. Não é uma forma de enriquecermos. Paulo alerta quanto a obreiros fraudulentos que atrairiam após si as ovelhas. São homens que querem se projetar sobre outros, querem ter um feudo, um trono para se tornarem poderosos. As Escrituras são bem claras quando dizem que, se tivermos o que comer, o que beber e o que vestir, estejamos contentes.
Como Paulo, devemos aprender a estar contentes em toda situação. “Tendo, porém, sustento e com o que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”
Paulo fala de obreiros fraudulentos. Isso diz respeito a homens que usam o ministério em proveito próprio. O serviço ao Senhor e ao Seu povo deve nos consumir de tal forma que o Senhor Jesus apareça, e que nós diminuamos. Que o nome dele seja célebre, não o nosso.
Alguns projetam seu próprio nome, tem uma marca do tipo “Ministério Fulano de Tal.” Nesse caso, o ministério deixa de ser do Espírito Santo e passa a ser do homem; a glória deixa de ser do Senhor e passa a ser do ser humano; o Criador é desprezado em favor da criatura.
2. Não podemos nos assenhorear do povo.
Não podemos pastorear como dominadores. O povo não é a nossa propriedade. Não o compramos. Deus, o dono original e que pagou por ele um preço alto, não o vendeu para nós. So- mos servos do Altíssimo, e servimos Sua família, Seus filhos, Sua noiva. Não temos nada aqui.
Quando um obreiro tem a mentalidade de dominador, ele machuca e maltrata, pois acha que pode fazer o que quiser com sua herdade. Alguns até passam de pai para filho, como se fosse uma sesmaria. O povo não é nosso. Nós somos do povo. A Igreja e todos os seus ministérios têm uma só razão de existir, que é glorificar o nome do Senhor Jesus. Uma figura que nos ajuda a entender o nosso papel é a figura do escravo letrado, que ensinava os filhos de seu senhor. Somos aquele escravo que cuida dos filhos do nosso Senhor.
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co- participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o reba- nho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; (1Pd 5:1-8)
Pedro foi incentivado pelo Senhor Jesus a cuidar de seus irmãos, e nesse texto ele nos diz como devemos obedecer ao Senhor. Em primeiro lugar, ele se coloca no mesmo nível daqueles que estão nesse serviço: eu, presbítero como eles. Uma lição subjacente: o pastoreio de um rebanho é feito por várias pessoas. Pedro diz qual é o privilégio de quem está no Caminho: testemunhar os sofrimentos de Cristo e ser coparticipante da glória que será revelada. Não se trata da glória ou da fama desta Terra. Trata-se da glória vindoura. O Senhor nos manda alimentar, supervisionar, cuidar, pro- teger, suprir, mas da maneira que Ele estabeleceu fazer essas coisas, ou seja, da forma como Ele cuida.
Depois, Pedro fala como o trabalho deve ser:
- Espontâneo – com um coração voluntário. Espírito disposto e coração convertido ao rebanho. Paulo usa a figura de uma mãe que cuida de seu próprio filho, mostrando-nos qual é a atitude que deve ter alguém que cuida do rebanho do Senhor;
- Como Deus quer – não da minha forma nem do jeito que eu acho, mas como Deus quer. Só há uma maneira de fa- zer as coisas do Senhor: fazendo como se Ele mesmo estivesse fazendo;
- De boa vontade – pastorear de todo coração, com dedicação e consagração. Jesus falou que se santificava em favor dos discípulos com boa vontade. Isso fala de ter uma mente inclinada para as ovelhas, ter sempre boa intenção para com os irmãos.
- Sendo modelo do rebanho – quando nos colocamos à disposição do Senhor para cuidar daqueles que Lhe são amados, propiciamos um modo de o Senhor Se mostrar por meio da nossa vida, dos nossos atos. Isto é preponderante no pasto- reio.
Escrito por: Pr. Jamê Nobre
PASTOREOU UMA PARTE DE IGREJA EM JUNDIAÍ – SP POR 42 ANOS E ATUALMENTE COOPERA COM A IGREJA EM CASCAVEL CURITIBA – PR
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