Como é expressiva esta declaração paulina: a igreja – corpo de Cristo! Romanos 12 e I Coríntios 12 ensinam que a igreja é o corpo de Cristo tanto na sua realidade existencial como em seu ofício. A igreja tem seu lugar específico no mundo. Ela não é uma alternativa para o mundo. Ela está colocada dentro do mundo como a única resposta à sua ansiedade e desespero, anunciando-lhe Cristo como a real solução para a situação de morte em que ele está.
A igreja, sendo o conjunto de pessoas remidas por Cristo, unidas em um só corpo, é um organismo, não uma organização. Não podemos deixar de lembrar que todos aqueles que já “morreram em Cristo” também fazem parte da igreja, com uma diferença: eles estão em uma outra realidade. São comumente designados por “igreja triunfante”. Nós aqui, e eles lá, formamos a igreja do Senhor Jesus. I Coríntios 6.17 ensina: “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”. Ser “um espírito com Cristo” é ter uma união espiritual perfeita. É a significativa unidade entre o remido e o seu Redentor. Que cada membro do corpo possa, com firmeza, conscientemente afirmar: “Cristo e eu somos um”. Isso é vital, pois a união de cada membro do corpo com aquele que é a cabeça, constitui a sólida base para a unidade e para a viva expressão do corpo. Jesus quer ter um vínculo muito estreito, um laço muito apertado, com a sua igreja. Aquele que nasceu de novo, que nasceu em Cristo, realmente precisa ser um com o seu Redentor. Isso responde à oração de Jesus: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21). Com essas palavras, Jesus dá um resumo do que é a igreja e qual é a sua precípua finalidade. Ela é uma unidade de remidos, unidos uns com os outros e todos com o Pai e com o seu Filho, para que o mundo creia.
A fim de que a igreja, na terra, seja verdadeiramente o corpo do Senhor Jesus, é necessário que cada membro desse corpo, individualmente, seja um em espírito com o Senhor Jesus. Ainda no texto de I Coríntios 6.17, no v 15, Paulo amplia essa unidade, perguntando: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?” Deus quer que realmente sejamos uma unidade de corpo, alma e espírito com o seu Filho. É uma unidade total, única, completa. As personalidades – Cristo, a cabeça do corpo, e os membros do corpo – precisam tornar-se uma só realidade. O corpo precisa identificar-se plenamente com a sua cabeça, para que ele possa se expressar segundo a sua orientação.
Em Efésios 5.22 e seguintes, Paulo usa o mesmo termo, especificando o relacionamento do esposo com sua esposa, ao descrever o relacionamento de Cristo, o noivo, com a igreja, a sua noiva. Esse texto indica uma precisão de relacionamento, presente e eterno. Assim como num casamento humano feito segundo a vontade de Deus, o esposo e a esposa se tornam um – e para enfatizar bem isso o texto diz: “uma só carne” (v 31) -, assim Deus requer que cada membro do corpo tenha uma unidade perfeita, indissolúvel com seu Filho. Irmãos, a igreja só será em sua totalidade o corpo de Cristo, quando cada membro estiver realmente ligado ao Senhor em uma unidade perfeita de corpo, alma e espírito. Sejamos um só corpo com ele – “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço” (I Coríntios 6.19,20). “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele” (v 17).
Em Efésios 3.15, encontramos uma oração de Paulo pela unidade da igreja, onde afirma: “de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra”. Como igreja, temos aqui duas realidades importantes que nos beneficiam. A primeira é que tomamos o nome de Deus, pois ele nos recebeu como seus familiares. Isso é preciosamente significativo. A segunda liga-nos à família que está no céu. A união da família de Deus no céu é ampliada com a unidade da família de Deus que está no mundo. Que valor inestimável é esse de ser família de Deus! Unidos a Cristo, levamos o seu nome. Assim, não somos pessoas deserdadas, sem nome, sem endereço. Somos aqueles que têm, anexado aos nossos nomes, o sobrenome do nosso Pai Celestial!
O ensino de Paulo continua: “O certo é que há muitos membros, mas um só corpo” e “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo”. (I Coríntios 12.20,27). Notemos bem que esse texto ensina que cada membro do corpo é único, distinto, insubstituível, inimitável. Essa é a glória da igreja. Apesar de sermos diferentes uns dos outros, podemos expressar a vida de Cristo nessa unidade de um só corpo. Todos têm diferentes funções e dons e os trazem para a edificação do corpo. Se cada remido em Cristo é um com ele, necessariamente está formada a unidade do corpo – cada um em sua função específica. Diante disso, o Apóstolo lembra um elemento muito necessário: “cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (I Coríntios 12.25) e acrescenta a razão de assim fazermos: “para que não haja divisão no corpo”. Eis um princípio para a vida da igreja: a cooperação e o cuidado de um para com o outro inibe divisões.
O corpo de Cristo, formado por todos os remidos, tem uma só cabeça: Jesus Cristo. Toda a autoridade lhe foi dada: “acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as cousas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à Igreja” (Efésios 1.21). Jesus Cristo tem toda a autoridade, “no céu e na terra” (Mateus 28.18), dada pelo Pai, porque foi obediente – “obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.8). Formulamos, então, outro princípio: A verdadeira autoridade da igreja decorre da completa obediência àquele que é a sua cabeça. O texto, depois de apresentar essa exaltação que Deus fez de seu Filho, apresenta mais uma expressão do amor de Deus para conosco: “o deu à Igreja”. O Deus que deu seu Filho para a salvação do mundo é o mesmo Deus que dá seu Filho à igreja para que ele lhe seja por cabeça. A mente mais sábia, mais viva, mais criadora, a que mais agrada a Deus porque pensa como ele pensa, a mente que “estava no princípio com Deus”, a mente em que “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (João 1.2,3), a mente do obediente Filho, a quem o Pai deu toda a autoridade, é, justamente, a mente que Deus deu para ser a governadora da igreja. A obediência da igreja a essa sua soberana autoridade, o Senhor Jesus, é que a torna, na terra, o seu corpo.
É de Cristo, a cabeça, que o corpo recebe saúde e vigor para seu crescimento e maturidade. Jesus expressa sua supremacia sobre a igreja cuidando-a e sendo responsável por ela, pois, ensina Paulo, ele é o “salvador do corpo” (Efésios 5.23). Cristo é a cabeça salvadora e sustentadora do corpo!
A cabeça precisa de um corpo para, através dele, poder se expressar. A igreja, como corpo de Cristo, surgiu para, literalmente, ser uma atuante expressão, no mundo, da vida e ministério de Jesus. O propósito que Deus tem para o mundo está colocado nas mãos da igreja. Conta uma lenda que Jesus, ao retornar aos céus, foi cercado por anjos ansiosos por saber como fora sua missão no mundo. Eles lhe perguntaram: – Senhor, toda a humanidade foi redimida? – Não, respondeu o Senhor. Então os anjos indagaram: – Que fizeste para que a humanidade venha a ser remida? Jesus respondeu: – Entreguei isso a Pedro, João, Tiago e aos demais discípulos. – Senhor, eles perguntaram em coro, e se eles não fizerem isso? O Senhor lhes falou: – Não tenho nenhum outro plano; confio neles. Irmãos, nós somos, hoje, os discípulos do Senhor Jesus no mundo, somos em quem ele confia. E ele só pode contar conosco. Ele não vai formular outro plano além do que já estabeleceu. Ele possui somente esse plano. Irmãos, eu, tu e os demais, se nós não fizermos o que nos foi confiado fazer, os anjos não farão. Jesus só tem a igreja para efetivar o seu plano redentor do mundo. É nela que ele confia!
Como o propósito de Deus é o “de fazer convergir nele (em Jesus), na dispensação da plenitude dos tempos, todas as cousas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios 1.10), a igreja precisa ser a fervorosa colaboradora para que essa aspiração de Deus se concretize. Como isso poderá ocorrer se a igreja não estiver atenta à parte que lhe compete fazer? Não esqueçamos que o poder que está nas mãos daquele que é a cabeça da igreja quer fluir para levar abundante vida a todo o corpo. Se o poder não flui é porque encontra canais fechados. Oremos para que o Espírito Santo nos mostre onde e porque os canais estão falhos, para que os desobstruamos e deixemos todo o poder de Cristo derramar-se para o seu corpo.
“Para em todas as coisas ter a primazia” diz Colossenses 1.18. Também Deus conta com a igreja para que Jesus Cristo venha a ocupar a posição que lhe determinou: “ter a primazia”. Que posição é essa? É a posição de ser o primeiro. Primazia é a preferência dada a alguém sobre todos os demais seres ou coisas. Deus quer sempre ter o seu Filho nessa posição. A grande verdade para a igreja é: Deus conta com a sua cooperação para que a posição que determinou para o seu Filho se efetive logo. A primeira atitude da igreja diante desse fato é: reconhecer Jesus ocupando essa posição sobre ela. A igreja precisa reconhecer Jesus como o Primaz sobre ela, ou seja, o primeiro. Outra atitude é proclamar a primazia de Jesus ao mundo. O mundo precisa saber que Jesus é o primeiro sobre ele, a quem deve se render totalmente. Tudo indica que, em breve, surgirão no mundo o falso profeta e o anticristo. Urgentemente, o mundo precisa saber que Jesus é quem tem a primazia sobre ele. O falso e aquele que se opõe passarão pela história humana. O que permanecerá é aquele que é “o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 22.13) sobre todas as coisas.
A IGREJA QUE O SENHOR VIRÁ BUSCAR
No capítulo 5 de Efésios, há quatro afirmações de especial significado sobre Cristo e seu relacionamento com a igreja: “Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo” (v 23) e “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (v 25). Primeiro, ele é a cabeça da igreja; segundo, ele a amou; terceiro, ele se entregou por ela; quarto, ele é o seu Salvador. Tudo isso ele fez com o propósito de poder apresentá-la “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (v 27).
A igreja é a noiva. É a esposa do Cordeiro. A amada de seu Senhor. Ela é você, sou eu, somos todos nós! Seja qual for a metáfora que usarmos para designá-la, nosso relacionamento com ela será sempre o de mais perfeita unidade, como a do esposo com a esposa. Somos parte indivisível um do outro. O Senhor Jesus nos santifica e nos purifica, com a água – sua vida – e pela sua palavra, pois ele é o Verbo que veio até nós (Efésios 5.26). Ele tem um propósito: apresenta-nos a si mesmo como “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (v 27). Criemos em nós uma profunda admiração pela igreja, mesmo que ela se apresente, hoje, em um estado ainda imperfeito e com um amor ainda precário. Saibamos que Cristo trabalha nela, para apresentá-la, naquele grande dia, cheia de graça e de glória! Se hoje a igreja não é plenamente digna, naquele dia ela o será. Será introduzida pelo seu amoroso noivo na sala de honra, onde as bodas celestiais serão celebradas. Creiamos, com verdadeira fé e esperança, suplicando ao Pai, que a igreja será digna de seu noivo.Oremos, e colaboremos, para que ela purifique a si mesma, para tornar-se tão pura quanto o noivo é puro.
A palavra para nós é enfática: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (I João 3.3), o que significa: coloquemos em movimento o processo de nossa purificação e continuemos a nos purificar, moldando-nos, mais e mais, à semelhança do nosso Senhor – “assim como ele é puro”. Como fazer? Ouçamos a advertência de Jesus:“Ainda por um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; e quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz” (João 12.35,36). Amém.
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Abril de 2002.
Escrito por: Erasmo Ungaretti – Janeiro de 1976
Pastor na comunidade de discípulos em Porto Alegre.
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